Dados do Trabalho


Título

Caracterização celular e molecular dos efeitos antineoplásicos da cefalocromina em modelos de leucemia mielóide aguda

Introdução

A combinação do inibidor de BCL2 venetoclax (VEN) com agentes hipometilantes (por exemplo, azacitidina, AZA) aumentou significativamente as taxas de remissão completa (RC) e prolongou a sobrevida global de adultos com leucemia mielóide aguda (LMA) que não eram elegíveis para quimioterapia intensiva. No entanto, VEN+AZA não são um tratamento curativo e a resistência a VEN e/ou recidivas são comuns. Portanto, é necessária a busca de novos agentes capazes de melhorar a duração da RC ou superar a resistência do VEN. A cefalocromina (CPC), um composto natural facilmente obtido do Comospora vilior, surge como um potencial candidato.

Objetivo

Avaliar os efeitos da cefalocromina na proliferação e sobrevida celular usando vários modelos celulares de LMA e avaliar os efeitos combinados da cefalocromina com venetoclax.

Métodos

Avaliação dos efeitos das monoterapias CPC e VEN em relação à sobrevida celular de um painel de linhagens celulares de LMA (n=12), cobrindo os principais e mais diferenciados perfis moleculares observados em pacientes com LMA. Cada modelo celular exibiu um grau de sensibilidade para cada droga, sem correlação entre a sensibilidade para ambos os compostos nos modelos celulares. Os valores de IC50 para CPC variaram de 0,45 a >20 µM, enquanto os valores de VEN IC50 variaram de <0,001 a 17,5 µM após 72 h de tratamento. Para avaliar os efeitos citotóxicos do CPC em células saudáveis, tratamos células mononucleares de sangue periférico humano de 4 doadores saudáveis, que apresentaram valores de IC50 variando de 3,7 a 8,8 µM em 72 h, sugerindo uma potencial janela terapêutica viável. Para avaliar os efeitos potenciais da combinação de CPC + VEN na LMA, realizamos experimentos de combinação em modelos LMA, escolhidos com base em sua sensibilidade VEN (células Kasumi-1 e U937 como parcialmente resistentes e OCI-AML3 exibindo maior resistência VEN).

Resultados

A análise do ciclo celular em células tratadas com CPC revelou um aumento progressivo na população de células sub-G1, sugerindo indução de apoptose de maneira dose-dependente, o que foi corroborado pelo aumento dos níveis de Anexina-V nas células tratadas. Os efeitos do CPC na indução da apoptose foram mais evidentes nas células Kasumi-1 quando comparadas com as células U937 e OCI-AML3. Nas células OCI-AML3, a combinação de baixas concentrações de VEN (1 µM) e CPC (1,8 µM) mostrou uma indução de apoptose em 95%. A combinação CPC + VEN resultou em níveis mais elevados de indução de apoptose em células U937 (VEN 2,5 + CPC 2,5 µM) e Kasumi-1 (VEN 0,6 + CPC 2,5 µM). A análise proteômica mostrou aumento dos níveis de clivagem de PARP1 (apoptose) e γH2AX (dano ao DNA) após o tratamento com CPC em todos os modelos avaliados, enquanto MCL1 foi reduzido em células Kasumi-1.

Conclusões

Em resumo, usando vários modelos celulares, demonstramos que o tratamento com CPC foi capaz de diminuir a viabilidade celular e a sobrevida das células de LMA, enquanto poupa as contrapartes saudáveis. Descobrimos os efeitos potenciais da combinação de CPC com VEN em modelos leucêmicos de resistência a VEN. Vimos que o tratamento com CPC induziu metabolismo mitocondrial prejudicado, dano ao DNA e diminuiu a expressão de proteínas relacionadas à resistência de VEN em LMA, possivelmente explicando os efeitos sinérgicos observados entre VEN e CPC.

Palavras-chave

LMA, Cefalocromina, atividade antineoplásica

Financiador do resumo

Cnpq e FAPESP

Área

Estudo Clínico - Tumores Onco-Hematológicos

Autores

MARIANE CRISTINA DO NASCIMENTO, Diego ANTÔNIO PEREIRA-MARTINS, Guilherme Augusto Sousa Alcântara, Keli Lima, Hugo Passos Vicari, Marcelo José Pena Ferreira, Letícia Veras Costa-Lotufo, Gerwin A. Huls, Jan Jacob Schuringa, João Agostinho Machado-Neto, Eduardo Magalhães Rego